Dicas para educar as crianças para a igualdade de género
Nos últimos anos, têm-se verificado muitas conquistas, no que diz respeito à igualdade de género. No entanto, continuam a existir desigualdades em diversas situações. Enquanto assim for, este assunto permanece atual e pertinente. Mas como educar os mais pequenos para esta questão? É o que poderá descobrir neste artigo.
Diferenças entre “género” e “sexo”
Antes de mais, importa distinguir “género” de “sexo” e compreender o que separa estes dois conceitos. De uma forma simples, podemos dizer que o termo “sexo” pertence ao domínio da biologia e o termo “género” ao domínio da cultura.
O sexo com que nascemos diz respeito às nossas características anatómicas e fisiológicas. O género, por seu lado, relaciona-se com os atributos psicológicos e culturais que o homem e a mulher vão adquirindo, ao longo do processo de formação da sua identidade.
O conceito de género começou a ser usado para haver uma melhor compreensão do que representa ser homem ou mulher em determinada sociedade e/ou em determinado momento histórico.
Assim sendo, o género é uma das primeiras categorias sociais que a criança aprende, exercendo grande influência na relação que vai construindo com os outros e com o mundo.
O que ainda não mudou
Apesar de a evolução ocorrida nos últimos anos, continuam a existir desigualdades em diversas situações.
Às mulheres continuam a ser associadas condições como cuidar da família. Apesar de investirem bastante na sua formação, ainda têm pouca presença na vida pública e política e existem ainda alguns cargos que são essencialmente assumidos por homens.
A igualdade entre o género feminino e o género masculino é uma questão de direitos humanos e uma condição de justiça social. A igualdade de género contraria as desigualdades existentes, tão difíceis de esbater devido ao facto de estarem incutidas na sociedade.
Desde cedo, as crianças lidam e aprendem a viver em função da realidade de género. Aprendem o papel do feminino e do masculino com aqueles que lhes são próximos sendo que, muitas vezes, esses papéis são estereotipados. Daí que trabalhar a temática da igualdade de género com os mais pequenos tenha tanta pertinência.
Desta forma, é importante que os adultos de referência preparem as crianças para que estas se tornem boas cidadãs, que procurem construir uma sociedade mais justa, solidária, igualitária, livre de preconceitos e desigualdades.
Passemos, então, a enumerar algumas dicas de como os pais podem realizar este trabalho:
Dica 1: dê o exemplo
As crianças rapidamente absorvem e reproduzem comportamentos que veem e vivenciam nas suas vidas, porque as ações dizem mais do que as palavras.
Por exemplo, a forma como os jovens abordam a divisão das tarefas domésticas entre homens e mulheres está diretamente associada à forma como esse trabalho foi dividido nas suas famílias de origem.
Dica 2: converse abertamente
O diálogo é um meio privilegiado para abordar as questões de género. Os pais podem aproveitar as situações espontâneas do dia a dia para dialogar com as crianças sobre determinados comportamentos. Podem também recorrer a livros ou a imagens para cativar a atenção dos mais pequenos.
Mesmo que estejam a ser criadas num ambiente livre de estereótipos de género, as crianças ainda recebem essas mensagens na televisão, nas redes sociais, na escola e com as suas famílias e colegas.
É excelente ter um pai que cozinha ou passa a ferro. No entanto, dar um bom exemplo não é suficiente. Os pais precisam realmente de conversar de forma aberta com os filhos sobre estereótipos de género
Dica 3: diga “não” à tipificação dos brinquedos
Quando uma criança nasce, a maioria dos pais já tem o quarto da criança pronto e decorado para a receber. Por norma, os quartos são maioritariamente diferenciados, consoante se trate de menina ou menino.
Habitualmente, os quartos das raparigas têm bonecas e os tecidos de roupa de cama coloridos, privilegiando a cor rosa. Já o quarto dos meninos tende a ser azul e a conter mais roupa desportiva e carros.
Também na oferta de diferentes brinquedos às crianças se perpetua a desigualdade de género. Às meninas continuam a ser maioritariamente oferecidos brinquedos como panelas, bonecas e kits de maquilhagem, e aos meninos pistas de carros e peças de Lego.
Dica 4: promova atividades iguais
Ainda existe a perceção de que existem atividades apropriadas a cada género. As crianças são estimuladas, consoante o género, a interessar-se por atividades que lhes ensinam os papéis tradicionais dos adultos da sua cultura.
Assim, é importante que os pais promovam brincadeiras conjuntas entre as crianças, para possam experienciar diferentes papéis sociais.
Todas as crianças, independentemente do sexo biológico, têm o direito de atingir todo o seu potencial aprendendo qualquer matéria, praticando qualquer desporto e brincando com qualquer brinquedo.
Os especialistas dizem que restringir as atividades de acordo com o sexo biológico pode prejudicar o desenvolvimento de uma criança, já que os brinquedos tradicionalmente direcionados aos meninos tendem a desenvolver mais habilidades espaciais, enquanto os brinquedos marcados como “femininos” estimulam mais sociabilidade e carinho.
Diversos estudos demonstram também que os pais de meninos usam mais números e conceitos numéricos do que os pais de meninas. No seu livro, ‘Parenting Beyond Pink and Blue: How to Raise Your Kids Free of Gender Stereotypes’, Christia Brown, professora de psicologia da Universidade de Kentucky, recomenda que as meninas interajam com os números diariamente, seja contando os degraus da escada ou as colheradas de sopa.
Quando limitadas ao tipo de brincadeira esperada para o seu género, as crianças não conseguem desenvolver certas competências. Por isso, procure estimular todas as capacidades que a sua criança possa ter, independentemente do seu género.
Dica 5: trate filhos e filhas de igual modo
Há famílias que continuam a educar os filhos e as filhas de forma diferente. Por exemplo, alguns pais permitem que os filhos rapazes possam sair sozinhos de casa mais cedo, mesmo que ao nível de maturidade as filhas possam estar mais bem preparadas.
Também nas tarefas domésticas filhos e filhas são tratados de forma diferente, imitando os comportamentos modelados, quer pela mãe, quer pelo pai. Por exemplo, aos rapazes são destinados os trabalhos que os levam a sair de casa, enquanto as raparigas ficam com as atividades a realizar em casa.
Dica 6: não separe as emoções por género
Todos os sentimentos são humanos. O que isto quer dizer? Quer dizer que as crianças precisam saber que podem expressar todos os seus sentimentos, que não existem emoções de “menina” ou “menino”.
Os meninos, por exemplo, devem ser estimulados a desenvolver a sua sensibilidade e afetividade.
Dica 7: viva num mundo diverso
Conviver entre pessoas de diferentes classes sociais, raças, nacionalidades e culturas e ver representações desses grupos na televisão ajuda as crianças, independentemente da sua própria raça ou género, a entender que a diversidade faz parte da natureza humana e que não é algo “diferente” do seu mundo.
Dica 8: ensine a respeitar as diferenças
A ideia de que existem corpos “padrão” (e, consequentemente, outros que ficam de fora, como corpos obesos ou deficientes) estimula atitudes discriminatórias. É importante que as crianças gostem do próprio corpo, respeitem o corpo dos amigos e entendam que não existe o corpo “certo” ou “perfeito”.
Fontes: