A mulher e o homem vivem emocionalmente a gravidez da mesma forma?
Durante a gravidez, é normal que um turbilhão de emoções afetem o casal. Embora seja mais habitual falar-se das mudanças na mulher, os homens também enfrentam muitas alterações. Muitos chegam mesmo a reportar sintomas de gravidez idênticos aos da mulher, principalmente quando se trata do primeiro filho.
Esta gravidez psicossomática, também conhecida como síndrome de couvade, é cada vez mais comum, porque a participação do homem na gravidez começa a ser trabalhada cada vez mais cedo.
Os sintomas
Efetivamente, não se trata de uma doença, mas de um conjunto de sintomas de uma “gravidez fantasma”, uma espécie de gravidez psicológica ou “gravidez por empatia”.
Este síndrome pode manifestar-se das mais diversas formas, muitas das quais atípicas para um homem: náuseas, enjoos, alteração de peso, tonturas, dores abdominais e dentárias, mudança de apetite, fadiga, insónias, problemas intestinais e até desejos.
Além disso, também tendem a ficar preocupados com a saúde da mulher e do bebé e, apesar de não demonstrarem da mesma forma, também podem apresentar ansiedade, medo e insegurança em relação ao futuro e como será sua relação com a mulher e com o bebé que está a chegar.
Naturalmente que os sintomas variam consoante o homem e as dinâmicas do próprio casal.
As causas
Ainda não é totalmente claro porque alguns homens desenvolvem estes sintomas típicos da gravidez. No entanto, alguns especialistas sugerem que poderá estar relacionado com a ansiedade sobre a gestação e a paternidade.
Segundo o ginecologista e psiquiatra Alfonso Gil Sánchez, citado neste artigo da BBC Mundo, toda a pesquisa sobre a saúde mental pré-natal tem se focado na mulher, mas agora há evidências concretas de que o homem também sofre mudanças.
Gil Sánchez, o qual também é membro da Sociedade Internacional de Saúde Mental Pré-Natal, diz haver provas de que o homem passa por mudanças no cérebro, para poder relacionar-se e apegar-se ao bebé. Além dessas, ocorrem também mudanças psicológicas e sociais relacionadas com as expectativas culturais sobre o que significa ser pai.
O médico destaca que a síndrome de couvade não é uma doença psiquiátrica, nem um delírio: o homem não acredita que está efetivamente grávido. Na realidade, é a soma de um conflito psicológico que não se pode resolver racionalmente, manifestando-se, por isso, através de sintomas físicos e sem uma explicação aparente.
No entanto, Gil Sánchez acredita que a síndrome de couvade “é uma manifestação absolutamente normal”, que não tem nada de patológico e que reúne todos esses conflitos que surgem da mudança inerente à paternidade: medos, inseguranças e ansiedade.
Estratégias para diminuir os sintomas
Como não é considerada uma doença, não há um tratamento específico para a síndrome de couvade.
No entanto, o pai poderá adotar várias estratégias para diminuir os sintomas, nomeadamente:
- Conversar e traçar planos para o futuro com a esposa, de forma a que ambos se sintam em paz e em segurança.
- Falar com os amigos ou participar em grupos de pais, onde possa expressar as suas inquietações.
Segundo os estudos realizados sobre este tema, a maioria dos sintomas relatados pelos homens desaparece após o nascimento do bebé.
As teorias à volta das origens da síndrome couvade
O nome da síndrome couvade vem da palavra francesa “couver”, que significa incubar. Esta designa um conjunto de sintomas involuntários associados à gestação, que não têm nenhuma causa física aparente — e que aparecem em alguns homens que vão ser pais.
Foi um antropólogo francês que utilizou este nome pela primeira vez em 1865, para descrever os hábitos que observou em comunidades primitivas, como na antiga Grécia, perante a espera de um bebé.
Nessas comunidades, o homem imitava as dores do parto, deixava de fazer as suas coisas e de ter qualquer esforço físico e, quando o bebé nascia, colocava-o no peito e simulava a amamentação.
Há outras teorias psicológicas que tentam explicar a origem desta síndrome.
Uma teoria psicoanalítica sugere que tudo começa devido a uma inveja que o homem sente da capacidade da mulher para a gestação.
Outra teoria diz que alguns futuros pais veem o filho como um rival na disputa pela atenção da mãe, e o surgimento involuntário da síndrome de couvade, ajuda-o a identificar-se com a esposa e a desenvolver o instinto protetor em relação ao bebé.
Há também uma teoria psicossocial, que diz que, durante a gestação da mulher, os homens podem sentir-se relegados para segundo plano — e para contestar esse sentimento, desenvolvem involuntariamente a síndrome de couvade.
De uma perspetiva totalmente contrária, há outra teoria que diz que é justamente a proximidade do homem com o feto que desencadeia a síndrome. Assim, os sintomas que aparecem no homem refletem o nível de “apego” que ele já tem com a criança que ainda não nasceu e a sua empatia pela esposa na gravidez.
Por outro lado, há estudos mais recentes que explicam a síndrome de um ponto de vista hormonal. Essas pesquisas descobriram um aumento no nível hormonal de prolactina e estrogénio nos homens, durante o primeiro e o terceiro trimestres de gravidez das esposas. Ainda segundo esses estudos, estas mudanças hormonais estarão associadas à demonstração de um comportamento paternal.
Fontes: